domingo, 10 de março de 2013

Como o Sol e a Lua


A lua brilhava encantadora no manto escuro que ocupava as alturas, onde faiscavam estrelas tímidas e singelas, cientes de sua pequenez diante da rainha da noite. A lua era uma bela rainha, brilhosa, alta, imponente, mas que fazia questão de não ofuscar as estrelas. O céu parecia, portanto, a mais bela joia, um grande diamante, lindamente lapidado, envolto pelos mais belos e preciosos cristais. Até as nuvens, tentando não atrapalhar a visão do lindo espetáculo, se afastavam e acabavam por dissolver-se no horizonte, o deixando, à distância, com um tom de lilás mais claro, contrastando com o roxo escuro, quase negro, que parecia anunciar que o céu era infinito, tanto em tamanho, quanto em beleza.

Da Terra, um garoto observava o céu encantado. Ele tinha os cabelos bagunçados e os olhos de um intenso castanho voltados para o céu. Lembrara que, uma vez, seu mentor lhe dissera que a lua não tinha luz própria, que ela apenas refletia a luz que recebia do sol. Na época acreditara e deixara a história findar por isso mesmo, pois já estava cansado e não queria discutir como seu mentor descobrira aquilo. Mas se tivesse visto aquele céu – se o mentor tivesse lhe dito isso, nesse exato momento, riria dele e exigiria todas as provas possíveis. Como aquela lua, que brilhava de forma tão especial que parecia guardar um segredo mágico, poderia apenas pegar emprestada a luz do astro rei? Talvez seu mentor estivesse errado. Talvez ele nunca tivesse vislumbrado o brilho da rainha.

Mas agora, o próprio menino se confundia. “Talvez o rei realmente ceda seu brilho, como prova de seu amor. Como pode o Sol-Rei fazê-lo de outra forma, se quando chega, sua esposa está indo embora? Como podem viver um sem o outro, se vendo de longe?”, pensara, e logo lembrara, “mas depois de longos períodos eles se encontram num eclipse, a rainha e o rei, sobrepostos, quase se abraçando. Talvez seja por isso que aguentem. Talvez eles vivam iluminando o céu, se vendo de longe e brilhando de forma apaixonada, somente para que, num dia, possam ter um ao outro nos braços, cada um vislumbrando a beleza de seu amado e pensando que toda a espera valera à pena por aquele pequeno encontro que lhes fora concedido. Quiçá o amor deles seja grande o suficiente para sobreviver só da saudade boa e dos reencontros, e que, a cada reencontro, eles se encontrem cada vez mais apaixonados um pelo outro.”.

Agora, aos olhos do pequeno observador, mais do que pequenos e lindíssimos focos de luz , as estrelas todas pareciam testemunhas de um casal que superava até a distância, em prol de seu amor. Por um instante, as estrelas brilharam mais forte –  ou assim pareceu aos olhos infantis que as miravam – como se, dessa vez, fossem elas quem guardassem segredos. A noite começava a esfriar e o pequeno sabia que era hora de procurar abrigo, todavia, antes de sair, olhou mais uma vez para a rainha, e numa mesura silenciosa, jurou-lhe não contar seus segredos de amor e seus cortejos a ninguém. Achara o amor dos reis lindo e puro, e assim deveria permanecer. Sorriu, com os olhos brilhando, como quem realmente acabara de guardar um segredo, deixando a lua sozinha com as estrelas, para que ela pudesse sonhar com suas juras de amor eterno, que chegariam bem cedinho, com a vinda do rei-sol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário