A lua brilhava encantadora no manto escuro que ocupava as alturas, onde
faiscavam estrelas tímidas e singelas, cientes de sua pequenez diante da rainha
da noite. A lua era uma bela rainha, brilhosa, alta, imponente, mas que fazia
questão de não ofuscar as estrelas. O céu parecia, portanto, a mais bela joia,
um grande diamante, lindamente lapidado, envolto pelos mais belos e preciosos
cristais. Até as nuvens, tentando não atrapalhar a visão do lindo espetáculo, se
afastavam e acabavam por dissolver-se no horizonte, o deixando, à distância,
com um tom de lilás mais claro, contrastando com o roxo escuro, quase negro,
que parecia anunciar que o céu era infinito, tanto em tamanho, quanto em
beleza.
Da Terra, um garoto observava o céu encantado. Ele tinha os cabelos
bagunçados e os olhos de um intenso castanho voltados para o céu. Lembrara que,
uma vez, seu mentor lhe dissera que a lua não tinha luz própria, que ela apenas
refletia a luz que recebia do sol. Na época acreditara e deixara a história
findar por isso mesmo, pois já estava cansado e não queria discutir como seu
mentor descobrira aquilo. Mas se tivesse visto aquele céu – se o mentor tivesse
lhe dito isso, nesse exato momento, riria dele e exigiria todas as provas
possíveis. Como aquela lua, que brilhava de forma tão especial que parecia
guardar um segredo mágico, poderia apenas pegar emprestada a luz do astro rei?
Talvez seu mentor estivesse errado. Talvez ele nunca tivesse vislumbrado o
brilho da rainha.
Mas agora, o próprio menino se confundia. “Talvez o rei realmente ceda
seu brilho, como prova de seu amor. Como pode o Sol-Rei fazê-lo de outra forma,
se quando chega, sua esposa está indo embora? Como podem viver um sem o outro,
se vendo de longe?”, pensara, e logo lembrara, “mas depois de longos períodos
eles se encontram num eclipse, a rainha e o rei, sobrepostos, quase se
abraçando. Talvez seja por isso que aguentem. Talvez eles vivam iluminando o
céu, se vendo de longe e brilhando de forma apaixonada, somente para que, num
dia, possam ter um ao outro nos braços, cada um vislumbrando a beleza de seu
amado e pensando que toda a espera valera à pena por aquele pequeno encontro
que lhes fora concedido. Quiçá o amor deles seja grande o suficiente para
sobreviver só da saudade boa e dos reencontros, e que, a cada reencontro, eles
se encontrem cada vez mais apaixonados um pelo outro.”.
Agora, aos olhos do pequeno observador, mais do que pequenos e
lindíssimos focos de luz , as estrelas todas pareciam testemunhas de um casal
que superava até a distância, em prol de seu amor. Por um instante, as estrelas
brilharam mais forte – ou assim pareceu
aos olhos infantis que as miravam – como se, dessa vez, fossem elas quem
guardassem segredos. A noite começava a esfriar e o pequeno sabia que era hora
de procurar abrigo, todavia, antes de sair, olhou mais uma vez para a rainha, e
numa mesura silenciosa, jurou-lhe não contar seus segredos de amor e seus
cortejos a ninguém. Achara o amor dos reis lindo e puro, e assim deveria permanecer.
Sorriu, com os olhos brilhando, como quem realmente acabara de guardar um
segredo, deixando a lua sozinha com as estrelas, para que ela pudesse sonhar
com suas juras de amor eterno, que chegariam bem cedinho, com a vinda do
rei-sol.
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